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Uma e outra vez me perco entre os silêncios. Ainda que continues a gritar, os meus ouvidos fecharam a qualquer tentativa tua em me derrubar pelas palavras. Entre presa e predador não há uma vitória justa. Nesse desafio, ou desatino, final decici escapar através da ilusão dos meus jardins plantados à beira mar... Ainda ontem o céu me parecia azul, salpicado aqui e além pelos meus próprios sonhos que deixei apagar.
São como as raízes que se estendem, são como as garras de uma ave de rapina, são assim os meus dias que se prolongam à tua procura...
Gota a gota vai caindo o sabor a mel que ainda ardia, quente...
Ainda lembro o cheiro colorido, adocicado, atraente, misterioso do proibido. As tentações são assim, deliciosamente viciantes... Recordo o sorriso inicial com que me deixava ir, como se tudo não passasse de uma pastilha de morango roubada em qualquer lado... Vagueio pelas imagens mentais que tento imaginar do riso descontrolado, dos gestos impensados causados pelo estado de embriaguez provocado pela negação de todas as regras...
Agora já não rio nem sorrio, nem sequer a um esgar de contentamento me consigo obrigar, é que de repente lembrei a alienação de tudo isso e o sabor amargo que me ficou na boca.
O mel foi-se... caiu, ardeu... Restou o fel, ficou o frio...