28 janeiro, 2007

Alfabeto de mariposa I

Afecto
Beijio
Calor
Desejo

Estória
Fugaz

Gesto
Hedonista
Imagem
Jornalista

Luar
Mar

Nua
Ondulando
Possua
Quando?

Riso
Siso

Tempo
Urgência
Vai,
Xô!

Zumbi....

18 janeiro, 2007

No cantinho da janela

O céu cinzento reflecte os vidro da janela emoldurada de um vermelho lascado e tingido pelo tempo. Assistia às gentes que passam e se passeiam, de uma forma impávida, impossível de qualquer relação ou reacção... mesmo que os feflexos fossem sombras negras de anjos caídos a quem queria apenas pedir para voar. Pelas ruelas deambulam seres, criaturas, homens-animais que se olvidam de racionalizar a sua própria existência e nem se apercebem daquela janela ali colocada, construída, moldada pelas perspectivas, pela chuva, pelo sol, pelo vento e pelos elementos mais que humanos. Por vezes atrevem-se a espreitar por ela, querem ver o seu interior - a audácia! - a luz que irradia de lá de dentro onde ainda há, ou talvez não, calor e sonhos... pensamentos mil... Daí essa curiosidade, esse voyeurismo de quem perde alguns segundos a contemplar a simples janela, de um vermelho já apagado, protegida por mantos e véus que apenas querem esconder o mais complexo de si, o remoinho de emoções, de brilhos e ilusões feéricas que iluminam, à noite, a pequena ruela escondida. Com o fim do dia aproxima-se a mariposa que habita no canto mais escuro da janela. Hoje encontrou-a fria, distante, perdida e já sem vontade de contemplar quem por ela passa e espreita.
Fui eu que me encontrei...

10 janeiro, 2007

renascer das cinzas

Sinto que lentamente, bem devagarinho ao ritmo do próprio Inverno, vais desaparecendo de mim, distanciando o teu ser da minha própria memória toldada ainda por sentimentos vis. As marcas em mim encrustadas, e que eram o teu cheiro, sabor, toque, riso, olhar,... , vão se desprendendo e perdendo na imensidão dos pensamentos que se atravessam pelo caminho. Ainda não sei o rumo a seguir, a estrada que me levará aonde nem sei se quero chegar. Cá dentro movem-se as areias, formam-se novas dunas, criam-se sulcos marcados pela solidão, pela ausência, não a tua mas a de mim mesma, pela rotina da mente que vai uma e outra vez caindo num remoinho de lembranças... todas... ou quase...
Sinto que em mim o tempo passou e que as folhas da nossa árvore foram caindo, uma a uma, sem vontade de regressar, voando para longe ao sabor das correntes, dos risos e das lágrimas. Fiquei nua, despida como essa árvore que afinal não era mais que um pequeno arbusto queimado pelo fogo que te consumia e que acabou por me arder mais que doer. Fui cinza, fui pó, fui um sem número de pequenos nadas entre o tudo que me rodeava, entre os vultos e as sombras, entre espaços escuros longes da luz que eu tivera cá dentro.
Sinto que estás cada vez mais longe, mais distante da semente que entretanto consegui germinar em mim. Continuo despida mas hei-de ter folhas, hei-de ter frutos, hei-de ter asas e vida em mim.
Sinto que vou renascer... sou fénix!