26 dezembro, 2007

saber-me

Escorre-me o teu olhar pelas mãos...
Quantas vezes apenas pedi que me guardasses num abraço
e me levasses para esse teu mundo perdido
de meninos grandes e fadas e brilhos!
Esperei-te no ar, no vento, no norte sem estrelas...
Foste o meu sol, a minha lua, a minha estrela polar e o meu cruzeiro do sul...

Era nas horas calmas, momentos mortos que nos encontrávamos.
Ficávamos assim perdidos, vendo castelos no ar e...
Era o teu calor e o teu jeito traquina em mim.

Sabia-te de cor.
Soube-te de cor pelas linhas cruzadas em labirintos nas minhas mãos
Corri os teus olhos como uma planície de cor, pontilhada pelas pétalas do teu sorriso
Respirei-te
Senti-te
Vivi-te em mim!

Escorrem as tuas mãos pelos meus olhos...
... salgados, molhados, sem cor...

Foste uma tangente ao meu círculo
Uma intersecção à minha recta, plano transversal
Caminhaste sempre no teu eixo
Sem nunca pensar na minha função.

Espera-te o infinito...
Espera-me o infinito...
Voltaremos ao princípio como o próprio relógio?

Sento-me frente ao espelho
Devolve-me um reflexo que não reconheço
Que não sou mais eu nem a minha aparição
Fita-me um olhar diferente, um sorriso oco
E nele, o teu brilho de outrora...

Soube-te em mim,
Já não me sei mais.

28 outubro, 2007

long(i)tudo

Longe vão os tempos em que te senti. Longe vão as horas e os minutos passados em beijos ternos e apenas o silêncio do olhar. E todos os sentidos se perdiam num mar de canela e almíscar. Era um olhar que me aquecia, fazendo todos os meus órgãos pulsar... De mansinho surgia o gosto, lançando cócegas no palato e o salgado de tez molhada.
Perco-me nas lembranças do desejo...

- onde estás?

Tudo começa no simples ofegar porque o ar parece fugir do próprio ar.

- estás aí?

Tudo começa com as palavras... (inocentes!) Trocam-se sílabas doces, seduzem-se os verbos e as sinapses, as metáforas e as melopeias... e tudo num frenesim!

Fecha os olhos, esquece os sentidos (dominantes!) e deixa-te embalar... Cada batida no peito é um toque leve na pele, cada palpitar dos olhos, um beijo quente e cada gesto perdido, cada abraço que se afasta, cada ondular dos cabelos... sou mais que eu, e apenas eu, em ti.

Soltou-se um beijo sob a chuva. Trocaram-se as palavras prometidas entre o doce aroma de um qualquer licor partilhado. Encheram-se os olhos de brilho da noite, tremeram as mãos, o corpo, a pele crua!

Sonhei-te mais que a ilusão...

- preciso-te...



beijos violeta borboleta

11 outubro, 2007

A ninfa (o início)


Blys despertou das águas primordiais decorria o ano perfeito. Pouco passava das 3 orvalhadas que antecedem a aurora quando um lótus encarnado desabrochou no lago quente da terra vermelha e adocicada e delicada de onde nascem os devaneios e caprichos... o lugar secreto de criaturas feéricas que lançam fragâncias agridoces. Blys nasceu. Girou em tropelias, fez soar incontáveis gargalhadas na escuridão e, antes de mais um nascer das luas, perdeu-se em desejos, loucuras, paixão...

29 setembro, 2007

doces pecados de sol

Sacudo mais uma vez a toalha (são tantas e a areia que não desiste!). Sob um dos guarda-sóis, que se amontoam em cores, comem-se doces talhadas de melancia.
-Qu'est que c'est ça maman?
Pergunta um dos petizes depois de uma enorme trinca no fruto rosado.
Ao lado uns olhos grandes sorriem para mim
- Olá! - dizem os dentes pequeninos... pequenas pérolas. O João Paulo parece gostar de areia e de praia e de mar. Com uma camisola laranja, grande demais para o seu corpo franzino, corre em saltos em volta das conchinhas de plástico. Parece saltitar por entre as imensas dunas criadas pelos pés que passam. Não deve ter mais de quatro anos. Quer ir ver as ondas e os barcos que navegam no horizonte. O chapéu de pala ao lado não incomoda a missão... nem a voz do pai que o chama incessantemente quando começa a caminhar. O João Paulo não conseguiu chegar à meta e, como que à tira colo, regressa ao ponto de partida. atira-se para o chão, deita-se na toalha e faz uma daquelas birras típicas da idade em que não se aceitam contrariedades menores. O pai desiste. Afinal, também ele quer um pouco de mar para lavar tantos pecados de sol.
Mãos dadas
Passos certos
Mais uma onda...


"Porque os frutos maduros são doces?"

Beijos violeta borboleta

P.s.: esqueci o beijo que ainda me faz cócegas no coração
P.s.2: novo blog de trenguices, parvoíces e outras 'ices em http://wwwf-util.blogspot.com

04 setembro, 2007

asas brancas

Quero folhas brancas para escrever. Folhas sem manchas ou passado, lisas ou em quadriculado. Linha após linha, preenchem-se os espaços de sentidos e sabores e tantos tantos odores que se perdem em palavras. A caneta vai delizando e as folhas, outrora brancas, estão já marcadas pelos pequenos grãos de areia, pelo sol, pelo sal e por mim.
Hoje sou sombra porque não a tenho. Irradio ondas de calor quando o sol sorri do seu ponto máximo... o meu zénite. Estende-se a toalha, escorre-se o cansaço e distrai-se o beijo em suspenso. À medida que as cigarras aumentam o ritmo do bater das asas - furor! - amainam-se as vozes e no ar apenas o silêncio ondulante do mar. Uma e outra, uma atrás da outra...
Numa cumplicidade de espuma lavam-se os segredos e os gritos roucos entregues em surdina. Entrega-se o corpo à luxúria num acto de carne entre pele e calor.
"- É Ícaro quem está aqui!"
Gritam os velhos de barbas e as musas de outrora e do tempo. Errante, a epiderme continua a oferecer-se... agora com outros aromas e um novo brilho a óleos de amêndoas doces e canela. Paira o pecado cometido em sintonia, esquecem-se as horas cinzentas e as botas de chuva. Até a gabardina amarela, escondida entre mil e uma coisas, parece adormecida da memória.
Contempla-se, esgota-se. É o prazer dos poros que gritam em êxtase sem perdoar! Lá longe continuam as ondas geladas, o líquido frio e salgado...
"- Cheira a mar", diz a menina de tranças loiras e mini-saia cor de pastilha elástica.
Deixe que se cheire e se sinta. Comam os olhos, o nariz, o corpo e tudo!
Planam as asas sem sombra ou luz ou história. Apenas brancas, por escrever...

28 agosto, 2007

beijo de borboleta

Acordei hoje num raio de sol.

Fui espreitando docemente
pela minha janela entreaberta,
esticando as longas asas
enquanto o sono
não desperta.

Num gesto traquina,
em jeito de travessura,
voei levemente
até poisar na boca nua.

Roubei-te o beijo, o gosto, a pele crua
e passeei-me pelos teus poros
até ser tua.

Quis-te assim, pela manhã, ao acordar...

17 agosto, 2007

muda...



Ligo directo para a caixa de correio só para ouvir a tua voz,
Sei que é cena fora mas todo o dia chega a hora em que
o lado esquerdo chora quando se lembra de nós
A vida corre tranquila, cada vez menos reguila
meto guita de parte e a cabeça não vacila tanto
Para minha alegria e meu espanto
Pode ser que o passado fique por onde deve estar:
No pretérito imperfeito, já que não é mais-que-perfeito,
Este é um presente que eu aceito
Para atingir a tranquilidade
Que supostamente se atinge com a nossa idade
A verdade é que a saudade do que passou
Não é mais que muita...
Mas por muita força que faça ela passa por saber que
te vivi...
Tu deste tudo e eu joguei, arrisquei e perdi
Agora,

Muda o teu número, eu mudei o meu,
Muda o teu número, eu mudei o meu,
Muda o teu número, eu mudei o meu,
Muda o teu Mundo que eu mudei o meu.

Cada vez que eu ligo tento deixar mensagem
mas acabo por nunca arranjar a coragem
Necessária
Gostava apenas de partilhar contigo o quotidiano
habitual
Nada que se compare com as correrias
doutras alturas e doutros abismos
E já que falo por eufemismos
Gostava de dizer que ainda gosto bastante de ti...
A casa tá diferente, parece digna de gente
Dá gosto sentar no sofá com a tv pela frente
Comprei uma máquina de café
Xpto, bem bonita, azul bebé
Ocasionalmente cozinho e bebo o meu vinho
E esqueço o fumo que nos dava aquele quentinho
Hoje em dia é mais à base do ar condicionado
Condicionei a tentação num clima controlado
Quero que saibas que tou bem, sei que tu mais ou menos
Sempre gostaste de brincar em perigosos terrenos
Em relação a isso eu não sei o que fazer
E se calhar é por isso mesmo que acabo por não dizer
que
a verdade é que a saudade do que passou
Não é mais que muita...
Mas por muita força que faça ela passa por saber que
te vivi...
Tu deste tudo e eu joguei, arrisquei e perdi
Agora,

Muda o teu número, eu mudei o meu,
Muda o teu número, eu mudei o meu,
Muda o teu número, eu mudei o meu,
Muda o teu Mundo que eu mudei o meu.

----- Mundos mudos (Da weasel)


30 julho, 2007

tu e eu


É nos dias mais cinzentos que te encontro. Sentada sobre o parapeito da minha janela, perdida sobre o mar. Há quem diga que ouço os teus murmurios nos meus sonhos, mas eu sei que apenas te sinto quando o meu barco encontra o cais. Entre jeitos e enleios profundos, descortino a sombra dourada que paira na tua mente e se envolve em cada momento que te sinto. Passo a passo caminhamos de mãos dadas, voltamo-nos para o próprio vento em busca daquela resposta que irá fazer-nos sorrir. Percebo os teus olhares travessos em tons de sombra, repetindo cada sílaba que sai da minha voz. Não tremo nem temo os dias porque sei que estás aí. Somos um tu e eu, eu e tu, o encontro de mim com o meu próprio ser que por momentos rompeu as próprias raízes que nos ligavam.

19 julho, 2007

do what you have to do

What ravages of spirit
Conjured this temptuous rage
Created you a monster
Broken by the rules of love
And fate has led you through it
You do what you have to do
And fate has led you through it
You do what you have to do ...
And I have the sense to recognize that
I don’t know how to let you go
Every moment marked
With apparitions of your soul
I’m ever swiftly moving
Trying to escape this desire
The yearning to be near you
I do what I have to do
The yearning to be near you
I do what I have to do
But I have the sense to recognize
That I don’t know how
To let you go
I don’t know how
To let you go
A glowing ember
Burning hot
Burning slow
Deep within I’m shaken by the violence
Of existing for only you
I know I can’t be with you
I do what I have to do
I know I can’t be with you
I do what I have to do
And I have sense to recognize but
I don’t know how to let you go
I don’t know how to let you go
I don’t know how to let you go


--- Sarah McLachlan

02 julho, 2007

(i)material

Se de um gesto triste ou de um sorriso falhado eu visse a transparência da alma… Arrancá-la, sangrá-la, esgotá-la sem pudor! Ver as vísceras, os órgãos, os músculos. Ver bem, ver dentro de mim. A matéria de que se é feito, os átomos que se movem, moléculas, células até ao infinito e deleitar-me com essas pérolas palpitantes, esses contornos que me fazem Ser. Entre estímulos e reacções movimentos ou vibrações, assegurar os limites entre cada porção e saber a matéria que faz bater o coração.

Ser a veia que transporta, ser o osso que sustenta. Ser carne, sangue e tudo… E absorver num sorriso o cheiro delicado de uma Primavera tardia, da relva cortada, molhada numa noite fria. Deixar que o pensamento voe solto sem as fronteiras do metafísico, exorxizando todo o contexto real, tangivel, palpável.


Existir mais que Ser... Possuir mais que apenas Ter...
Planar entre universos de omnipresença e Sentir... sem tocar, sem ver ou ouvir, sem cheirar ou saborear... De uma orgia dos sentidos passar para o nada simples do Nada, a ausência, o abstracto em planos díspares, o Tudo dentro do vazio e deixar que o riso daquela criança de guarda-chuva amarelo que brinca lá longe, trespasse o corpo e se fixe na alma como os grãos de areia arrastados da praia pelo vento norte.

18 junho, 2007

chuva de mudanças

Há noites assim, em que as horas demoram a passar e a febre faz subir a temperatura de um simples desejo partilhado num murmúrio. Blys olhou a tempestade que se aproximava com o cheiro húmido de terra molhada, de pedras de granito desgastadas em pequenas partículas de quartzo, feldspato... Limpa-se o chão, varre-se o ar... e as lembranças. O mundo pesado de memórias mais que de átomos ou matéria. São os anos que se acumulam em olhares e sons e cheiros trocados, partilhados e que se tornam inconfundíveis. Por isso, aquele cheiro a gotas, a água, a gente... o odor dos cabelos, das peles, das carnes entranhadas, das bocas esquecidas, de suor, transpiração, raiva até, a emoção, recriaram a imagem que guardava há tanto tempo no canto de um órgão palpitante chamado coração. A tempestade da mudança... Há sempre tantos sinais a avisar, muda a cor do céu, transforma-se a pressão do ar... e até o seu espírito dizia baixinho que algo estava para acontecer. "Não", pensava. "O sol vai brilhar", convencia-se em vão. Ah a inocência... Muda-se o sorriso, perde-se a cor, muda-se o olhar, perde-se o sabor!... e a chuva que continua a cair... Tantas gotas, a imensidão. Eis que acaba no chão, sentindo cada partícula ao pormenor, decifrando até a textura e o odor... Blys queria o Mundo sem o viver intensamente mas foi a chuva que, entre ritmos e ventos, mudanças e alentos lhe suspirou ao ouvido que cada gota contém um universo apenas visível a quem consegue expandir, num só segundo, a imensidão da mente.


Sweet sweet rain
Feel the rain on your face
Let the Heavens open
Feel the rain
Feel the rain

06 junho, 2007

Era uma vez... (1)

Era uma vez uma fada. E a fada vivia num castelo, desses encantados, com véus e flores a cobrir os parapeitos das janelas, elas próprias encantadas. Como todas as fadas, vestia de cor-de-rosa e passeava com varinha de condão, sempre acompanhada de pequenas borboletas, libelinhas e colibris. Tinha cabelos loiros e olhos brilhantes de luar, mas faltava-lhe um príncipe para beijar. Naquela manhã encantada, a minha fada encantada, como o são todas as fadas e também todas as manhãs, ergueu a varinha para fazer um vestido. Não um vestido qualquer, que nenhuma fada aceita simples tule, organza ou cetim. Teria de ser um vestido especial, em que todos os elementos estivessem conjugados numa perfeita união. Não poderia faltar o brilho do sol, ou os raios da lua, nem sequer as ondas do mar ou a leveza do próprio ar. Com aquele vestido, a minha fada queria voar...
Convocaram-se os senhores dos mares, os reis da terra e deuses do céu, todos num concílio para que se pudesse criar tão especial vestido. E passaram-se as horas encantadas, por relógios encantados espalhados por tantos e tantos quartos enfeitiçados pela magia de uma inebriante sedução que emanava do ser feérico. Nada parecia agradar, nada parecia ser verdadeiramente especial para uma fada, que como todas, padece do romantismo das flores e do encantamento dos animais que se encontram una única vez para partilhar toda uma vida. Sim, a minha fada encantada e enamorada queria o que nem os deuses tinham para oferecer. Faltava-lhe o beijo encantado do príncipe, sem o qual não fazia sentido fazer tal vestido.
As notícias logo se espalharam pelo reino encantado, como todos os que fazem parte de contos de fadas. "Onde estará o meu príncipe?", perguntavam os caracóis loiros do cabelo encantado da fada encantada. O seu pedido ecoava em música nos ouvidos de todos as criaturas encantadas do bosque encantado que envolvia o reino encantado. Todos procuravam o príncipe do beijo... onde estaria? onde estará? onde estás...?

31 maio, 2007

....porque há dias lamechas



``In vain have I struggled. It will not do. My feelings will not be repressed. You must allow me to tell you how ardently I admire and love you.''

Mr. Darcy in Jane Austen's Pride & Prejudice, chapter XI of volume II

10 maio, 2007

a ninfa...(parte perdida)

Blys sentiu o cheiro da saudade. Vinha a dançar por entre as ruas entrançadas da cidade antiga, bailando até ela num sopro de vento. Trazia pedaços de um ser, rasgados como um tecido velho, esquecido num qualquer canto empoeirado. Era de Homem o cheiro, almiscarado, inebriante como uma bebida que entra depressa demais para a corrente de plaquetas e hemácas que transformam o sangue num fluido carmesim. Estava empoleirada numa janela esquecida de um sótão perdido quando sentiu o aroma que logo a atormentou. Um misto de tristeza, ansiedade, alegria pela memória e eis que algo começou a resvalar pelo seu rosto. Um líquido salgado, transparente que logo lambeu com a ponta da língua rosada pelo prazer de um novo sabor. Fechou os olhos e levou a mão à cara para tocar tal substância que foi espalhando pelo rosto até não existir mais. Queria sentir outra vez, queria poder ser o líquido e deixar-se verter por tantas e muitas caras marcadas por sorrisos, tristezas, olhares de surpresa ou diversão... Queria o todo através dessa mistura de água com sal e sentimento. Ser todas as gotas, ser todas as faces e todo o mundo num só elemento!!! O profundo conhecimento, prazer, desejo. Blys entregou-se ao vento da saudade e deixou-se dançar sem sombras, sem contrastes ou reflexos.
Blys sentiu o sabor da saudade... Puro regozijo!

03 maio, 2007

Febre


"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir"
Fernando Pessoa

concordo e subscrevo...

29 abril, 2007

quero...

Quero-te provar, encontrar esse equilíbrio entre o sabor e o cheiro do que és por dentro... quente, doce, vibrante... Poder morder das próprias entranhas o suco da vida e beber até saciar a minha sede de ti.

Conheço-te de cor, sei a ordem dos teus traços, o perfil do teu corpo, o toque da tua pele que alterna entre o macio e o áspero, o liso e o rugoso... a pele que te protege de mim e desse desejo perverso de te saber. Encontrar-me nas tuas veias, nos brônquios, no fémur, cúbito e rádio, em todas as células, órgãos e miudezas e poder fazer-te parte do que sou, do tangível e visível, para sempre.

Entra em mim, alimenta os meus poros, o meu desejo mórbido, o meu sangue!!!

E enquanto suspirares, enquanto a morte se for apoderando, lentamente, dos teus sentidos, saberás que continuarás a viver em mim, pelo gosto, pelo sabor, levemente temperado de especiarias que o próprio ar carrega.

Ah, o deleite, o prazer, o derradeiro pecado original. Pertenceres-me completamente como a caça ao caçador.

Oferece-te!
Eu espero...

16 abril, 2007

e se...?


E se eu hoje quisesse beber da tua carne, saborear as veias palpitantes enquanto ainda vertem, sentir esse odor quente, fértil, semi-vivo, e lambusar-me das tuas vísceras?

medo...

perder...

só perde a razão quem ainda gosta de pensar. só tem medo quem ainda pensa.

Preferes ter as minhas entranhas?
Hoje não!!!
É a minha vez...

05 abril, 2007

a ninfa...(parte2)


O contacto físico pode ser perigoso se a líbido estiver demasiado desperta... se o ventre pede, se a boca mordisca e se as mãos procuram entrelaçar, ou simplesmente tocar até sentir o calor, as pequenas linhas marcadas nos dedos, as curvas sinuosas cravadas pelo tempo e aquela humidade que denuncia um nervoso miudinho.
Foi, porém, num gesto brusco, quase desajeitado pela dor que a pele reclamava, que eles se sentiram. Primeiro tentando entrelaçar os dedos e depois numa luta de lábios qual tentativa de decidir quem seria a presa e qual o caçador.
Para mostrar toda a sua virilidade, puxou aquela pequena ninfeta cor de ginja, que não deveria ter mais de metro e meio, contra si e num com um movimento rápido mas sublime cruzou as suas pernas no seu colo. Elevou-a no ar... ia fazer dela a sua pequena deusa, a sua maçã proibida, o seu doce de cereja por uma noite! Queria tê-la ali, naquele instante em que os dois corpos se encontraram quase por completo, ou não fossem as vestes (menos ou mais ousadas, sempre espartilhadoras de emoções), e vibravam em frenesim. As veias dele palpitavam incessantemente tal como os músculos se contraíam em espasmos espectantes. Estava pronto e ela sabia-o.
Suspensa, ela puxou-lhe algumas madeixas de cabelo para trás por forma a poder simplesmente contemplá-lo e deliciar-se com o brilho quente daqueles olhos que a continuavam a beijar ainda que de longe.
Estava a provocá-lo! (e ele começava a protestar com a mão livre que lhe percorria o corpo sem pedir licença...)
Estava a mirá-lo como quem vê uma montra, um catálogo, um desfile e procura decidir o peso da tentação. Homens como ele já tinha conhecido alguns, vários... Sempre iguais. Sempre o mesmo jeito, o mesmo feitio e inevitavelmente a mesma confiança que rapidamente se transformava, a seu ver, em pura ingenuidade.
Mas aqueles olhos tinham algo diferente... pimenta preta com umas gotas de mel... Isso! Tinha um olhar agridoce.
Como se fosse apoderada por um sentimento carinhoso, largou as poucas madeixas com que o prendia, molhou os lábios dele com a sua língua e quebrou o silêncio:

-"Queres?"

28 março, 2007

a ninfa... (parte1)


É à noite que os corpos se encontram, se mexem e remexem entre as luzes turvas. Se movem ao som da lua, se curvam entre penumbras de pautas articuladas. Os olhares trocam-se e perdem-se, brilham e ofuscam. Os lábios aquecem e pedem um pouco mais de licor inebriante, um pouco de chuva... humidade... a língua mergulha na boca - louca - enquanto o suor teima em escorrer pela dança frenética das luzes.
Foi numa dessas noites de criaturas esvoaçantes, de mariposas rodopiantes, em que tudo se mexe, se toca e se troca que o corpo dela cheirou o dele... de leve... de mansinho... como se pedisse licença para sentir. Olharam-se longamente tentando perceber a atracção entre as mãos, entre os dois órgãos palpitantes... e a Terra que girava em volta, tornando turva a imagem dos seres em redor... secundários... desinteressantes...
O cabelo dela esvoaçava enquanto os olhos dele percorriam as curvas da silhueta perfeita que ela não escondia por puro devaneio de menina mulher que se quer afirmar sem pudor. O colo de alabastro, coberto de brilhos em demasia, mostravam duas pequenas saliências; indícios do que viriam a ser fontes com que alimentar não só frutos mas também olhares lascivos de machos não preparados para esta ninfeta.
Ah o cheiro de menina que exalava deixava-o completamente fora de controlo, confundia-lhe os sentidos. Todo ele queria senti-la, tocá-la, tê-la e percebê-la como um troféu. Imaginava aquele rosto redondo, vermelho de luxúria e aqueles caracóis cor de cereja desalinhados sobre os seus lençóis!
Queria prová-la, saber o seu sabor mais que com um beijo que não ia roubar. Não!
Roubar não era suficiente, não tinha chama, não tinha charme nem carisma. Não era sofisticado, não era o mais apropriado. Aquela pequena ninfa cor de cereja merecia algo... diferente... Era deliciosa demais para simplesmente mordiscar, tinha que a devorar por inteiro e no final poder saborear o caroço, o suco...
A troca de olhares difusos continuava enquanto os corpos se entendiam numa dança que fugia ao ritmo espalhado pela sala. Os dois estavam alienados do tempo e do espaço.
Eram apenas desejo.
Falar era proibido...

24 março, 2007

não é fácil

Não é fácil estar sentada nesta poltrona de espera enquanto um remoinho de crisálidas tenta, com toda a força palpitante, sair do casulo... enquanto toda eu deseja uma resposta. Na ambiguidade das formas das nuvens lê-se o impossível, o inaceitável, a minha vontade.
Ser pássaro azul que renasce da flor plantada em águas, que emerge por entre as brumas!
Lusco-fusco.
Pisca-pisca.
Os olhos ainda não se habituaram à luz imensa que brilha cá dentro e irradia tentando esquecer aquele medo que já invadiu todos os poros, todas as superfícies, cada milímetro de mim.
Mas o desejo... essa vontade carnal de te ter e sentir-te ainda que o tempo tenha passado e a existência simultânea tenha perdido a hipótese de sobreviver.
Ardi.
Ardeu.
Ardeste.
Nas mãos vejo as marcas, as linhas que se escreveram por si e se instalaram de forma indelével.
Não te consigo apagar. Não é fácil não pensar.
Estás sempre dentro de mim.

16 março, 2007

litthium




in the darkness I know myself
can't be free until I let it go...

ur my drug, my addiction... gotta loose it and find my way...

13 março, 2007

vou contar-te um segredo

Queria contar-te um segredo. Daqueles que se escutam baixinho e ficam retidos entre o palpitar das próprias veias ou as incongruências entre sinapses interrompidas...

Deixa-me contar-te um segredo. Dizer-te o que me sufoca, me cansa, me imobiliza e dói no pensamento até se volatilizar como combustível à espera de rastilho...

Vou contar-te um segredo.
Gosto de ti.
Gostei tanto de ti...

Prendem-me as amarras ao cais como um navio que se recusa a percorrer todas as ondas que, em volúpia, desafiam a proa, a ré, o centro de mim que inegavelmente (e infrutiferamente) tenta fugir do que é (és?). Soltei-me de ideias, de pensamentos cadenciados, de luas que se seguem a sóis e saltei... Pulei até não conseguir mais manter o ritmo, dancei na incerteza, num rodopiar incessante, numa vontade de mergulhar pelas luzes e desaparecer à velocidade das próprias ideias que fogem com o caminho que vou trilhando.

Chama-me fugaz!
Chama-me volátil!
Mas sou fogo e a própria chama que não esquece o toque, o cheiro, o gosto do teu corpo, o calor do abraço forte que dás quando corres para me prender em ti...
Num piscar de olhos, num desencontro de ponteiros, enquanto viraste o rosto para recuperar o fôlego já eu desapareci e me escondi do meu vício que eras (és?) tu.
Um encontro não é mais que uma mensagem a ser transmitida entre palavras, olhares ou um beijo que estremece... Ainda espero que roubes o meu, nem que pela derradeira vez...

Quando o Sol já não brilhar, quando a Lua fugir di céu estrelado, quando o vento deixar de fustigar os meus (teus?) medos e cabelos, nesse segunfo único de eternidade, em que nada mais existir, vou estar lá, naquele cantinho escondido da memória para receber de volta a ilhas dos amores, o paraíso perdido, o beijo proibido...

És o meu segredo!!!
...até à eternidade...
...ad vitam aeternam....

26 fevereiro, 2007

A Borboleta!

Noite escura lá fora, fria, oculta mas mais me preocupa o meu vazio... o meu silêncio profundo como se a mente deixasse pura e simplesmente de pensar...

Fogem-me as ideias como chamas etéreas fustigadas pelo vento... o meu? Apesar de tudo, continua a doer a tua simples existência...

Escreveste-me uma carta... uma simples, dactilografada, impessoal, carta deixando apenas um beijo... (pouco lembro já dos que trocámos). Despediste-te para um nunca mais e foste sem sequer olhar para trás...

Eu esperei por ti, na minha completa inocência desejei que não embarcasses nessa viagem sem retorno... mas foste, levando os meus sonhos contigo, mas deixando-me qui...

Vejo os raios da lua que já partilhei como um beijo...

A lua virou Sol e voltei a ver-me ao espelho. Tenho asas! Sou Monarca!

P.S.: Entre Borboletas e traças vai uma grande diferença. Umas são belas, coloridas, fortes, resplandecentes e iluminam tudo em redor. Já as outras, de tantas e tão cinzentas que são, acalentam um sentimento de piedade. Nunca confundir uma borboleta com todas as traças que se colam a uma lâmpada e se limitam a lá ficar.

22 fevereiro, 2007

O design da alma

"As linhas de um monumento devem ser determinadas pela sua perfeita apropriação ao destino"... (Eiffel)

Leva-nos a pensar se com as pessoas se passa o mesmo. Os mais voyeuristas poderão logo pensar em linhas externas... desenganem-se. Nada é pior que um design de uma alma inacabado.
Qual Picasso, qual Degas, qual Van Gogh... a minha alma é mesmo Miró. Numa tela de incongruências, de formas geométricas perfeitamente imperfeitas vejo-me crescer, evoluir, envelhecer... Acrescente-se um ponto final almejando uma delineação, um padrão. Afinal, sou eu que me engano. Não é apenas um ponto que falta, mas sim uma profusão de reticências vermelhas, pretas, azuis.... qui çá...

13 fevereiro, 2007

De repente...


Suddenly is Monday
And all I see is stormy clouds
This grey jacket upon my shoulders
The noisy traffic whitin my shouts

Suddenly my eyes start to bleed
And the blury road threatens to steal
All the memories left behind
All the dreams and tunes to feel

Suddenly...
Suddenly...

And those meaningless words spoken
Chose the day to be left to die
And the soft thoughts were torn and broken
Making all lullabyes say goodbye

Suddenly...
Suddenly...

Suddenly is Monday
And my world seems weary to run
The mouldy books were finally over
Reminding me once we were one

Suddenly...

..............)ï(..............
(Porque de repente me deu vontade de escrever a letra para uma música. Pode ser que um dia a ouça a tocar sem ser baixinho, cá dentro, só para mim....)

06 fevereiro, 2007

Sou!

Ser e não ser mais nada
Ser um riso num lugar estranho...
Lâmpada cinzenta em rua dourada...
Ser o brilho da própria luz,
a sombra do próprio sol
Ser o infinito num ponto,
numa estória contada...
Ser os passos que não se dão...
...por essa estrada,
Mas ecoam num sorriso,
Gargalhada.

Ser o beijo e a própria boca
Ser os teus lábios!
Chamam-me louca...

Ser frio na aurora perfeita
Ser silêncio pela marginal
Ser árvore, fruto, animal
Ser quem sou.
Ser quem fui.
Ser o ser,
Ser e não ser mais nada.

28 janeiro, 2007

Alfabeto de mariposa I

Afecto
Beijio
Calor
Desejo

Estória
Fugaz

Gesto
Hedonista
Imagem
Jornalista

Luar
Mar

Nua
Ondulando
Possua
Quando?

Riso
Siso

Tempo
Urgência
Vai,
Xô!

Zumbi....

18 janeiro, 2007

No cantinho da janela

O céu cinzento reflecte os vidro da janela emoldurada de um vermelho lascado e tingido pelo tempo. Assistia às gentes que passam e se passeiam, de uma forma impávida, impossível de qualquer relação ou reacção... mesmo que os feflexos fossem sombras negras de anjos caídos a quem queria apenas pedir para voar. Pelas ruelas deambulam seres, criaturas, homens-animais que se olvidam de racionalizar a sua própria existência e nem se apercebem daquela janela ali colocada, construída, moldada pelas perspectivas, pela chuva, pelo sol, pelo vento e pelos elementos mais que humanos. Por vezes atrevem-se a espreitar por ela, querem ver o seu interior - a audácia! - a luz que irradia de lá de dentro onde ainda há, ou talvez não, calor e sonhos... pensamentos mil... Daí essa curiosidade, esse voyeurismo de quem perde alguns segundos a contemplar a simples janela, de um vermelho já apagado, protegida por mantos e véus que apenas querem esconder o mais complexo de si, o remoinho de emoções, de brilhos e ilusões feéricas que iluminam, à noite, a pequena ruela escondida. Com o fim do dia aproxima-se a mariposa que habita no canto mais escuro da janela. Hoje encontrou-a fria, distante, perdida e já sem vontade de contemplar quem por ela passa e espreita.
Fui eu que me encontrei...

10 janeiro, 2007

renascer das cinzas

Sinto que lentamente, bem devagarinho ao ritmo do próprio Inverno, vais desaparecendo de mim, distanciando o teu ser da minha própria memória toldada ainda por sentimentos vis. As marcas em mim encrustadas, e que eram o teu cheiro, sabor, toque, riso, olhar,... , vão se desprendendo e perdendo na imensidão dos pensamentos que se atravessam pelo caminho. Ainda não sei o rumo a seguir, a estrada que me levará aonde nem sei se quero chegar. Cá dentro movem-se as areias, formam-se novas dunas, criam-se sulcos marcados pela solidão, pela ausência, não a tua mas a de mim mesma, pela rotina da mente que vai uma e outra vez caindo num remoinho de lembranças... todas... ou quase...
Sinto que em mim o tempo passou e que as folhas da nossa árvore foram caindo, uma a uma, sem vontade de regressar, voando para longe ao sabor das correntes, dos risos e das lágrimas. Fiquei nua, despida como essa árvore que afinal não era mais que um pequeno arbusto queimado pelo fogo que te consumia e que acabou por me arder mais que doer. Fui cinza, fui pó, fui um sem número de pequenos nadas entre o tudo que me rodeava, entre os vultos e as sombras, entre espaços escuros longes da luz que eu tivera cá dentro.
Sinto que estás cada vez mais longe, mais distante da semente que entretanto consegui germinar em mim. Continuo despida mas hei-de ter folhas, hei-de ter frutos, hei-de ter asas e vida em mim.
Sinto que vou renascer... sou fénix!