10 maio, 2007

a ninfa...(parte perdida)

Blys sentiu o cheiro da saudade. Vinha a dançar por entre as ruas entrançadas da cidade antiga, bailando até ela num sopro de vento. Trazia pedaços de um ser, rasgados como um tecido velho, esquecido num qualquer canto empoeirado. Era de Homem o cheiro, almiscarado, inebriante como uma bebida que entra depressa demais para a corrente de plaquetas e hemácas que transformam o sangue num fluido carmesim. Estava empoleirada numa janela esquecida de um sótão perdido quando sentiu o aroma que logo a atormentou. Um misto de tristeza, ansiedade, alegria pela memória e eis que algo começou a resvalar pelo seu rosto. Um líquido salgado, transparente que logo lambeu com a ponta da língua rosada pelo prazer de um novo sabor. Fechou os olhos e levou a mão à cara para tocar tal substância que foi espalhando pelo rosto até não existir mais. Queria sentir outra vez, queria poder ser o líquido e deixar-se verter por tantas e muitas caras marcadas por sorrisos, tristezas, olhares de surpresa ou diversão... Queria o todo através dessa mistura de água com sal e sentimento. Ser todas as gotas, ser todas as faces e todo o mundo num só elemento!!! O profundo conhecimento, prazer, desejo. Blys entregou-se ao vento da saudade e deixou-se dançar sem sombras, sem contrastes ou reflexos.
Blys sentiu o sabor da saudade... Puro regozijo!

3 comentários:

Eldazinha disse...

É apenas saudade...
se pudesse nunca as deixaria resvalar no teu rosto se por tristeza...
Gosto do desabafo húmido.
Mas gosto mais da tua escrita =)
Beijinhos

Joana M. Soares disse...

:) todos gostamos da escrita. faz embalar, e talvez, desembrulhar, histórias de cá de dentro, de nós mesmos*

Anónimo disse...

É quando procuro a tristeza que percebo que faz parte de mim. Sempre fez. É quando penso que fujo dela que ela mais me aperta e me puxa a si. Choro, choro-te na vontade própria de uma criança que deseja um mundo inteiro. Abraço-te tristeza minha, abraço-te se me abraçares e entranhares no brilho baço do meu pensamento. Preciso do aconchego dos teus braços vestidos de lágrimas e prantos solitários onde o silêncio é o mote de cada instante nosso. Preciso olhar a tua mágoa e sentir o grito que em mim assombra o triste sorriso fingido. Olha-me nos olhos e abarca-me nas tuas mãos sem tempo nem história para contar. Que interessa o tempo quando a alma é eterna, quando o sentimento é linha traçada sem começo nem fim. Não consigo esticar o céu, não cabe em mim o tamanho-noite do teu toque negro, nem o espaço interessa quando o que sou é nada dentro de outro nada feito de nada.
Não me deixes, tristeza mansa. Não me largues serenidade rasa, aperta-me a mão e faz-me chorar contigo em corrente lenta contrária ao rio da vida.
Não me deixes só...

A maneira que tenho de comentar os teus textos e deixar um pouco de mim...continua a encantar-me com as tuas palavras...é aqui que te encontras e mostras a parte que tanto evitas...a tua ternura, sensibilidade e amizade...