31 dezembro, 2006

Voá Borboleta...



A butterfly hovers closely
And then quickly moves away,
Swiftly going where so ever
Her heart may freely say.

A butterfly lowers and rises
With the wind's gusty breath,
As if coupled within a dance
Of a loving tenderness.

The butterfly only knows
How it feels to have wings,
To kiss the petals of flowers
In such elegant flitterings.

To have but one moment
Of such an exquisite flight,
Would be like a dream
Where all seems so right.

De que vale ter asas se não se sabe voar? De que vale voar se não se sente o vento no cabelo? Vale pelo momento, pelo sonho, pela felicidade. Um fantástico 2007!

27 dezembro, 2006

do baú das memórias doces II


(...) “A praia está à nossa espera, vamos lá!”. Não era uma ordem mas o suave pedido de quem queria o já, o agora, o começar naquele mesmo instante por não existirem quaisquer dúvidas sob as ondas doiradas que se iam amontoando na cabeça. “Coragem”, pensava ela. Queria tanto que tudo corresse bem, que os dias fossem de felicidade, que fosse possível caminhar de mãos dadas entre infintos grãos de areia que se moviam, incansavelmente, sob as asas dos pés alterando, aleatoriamente, a paisagem, o presente, o futuro. Enquanto decidia sobre a distância dos sonhos ao mundo real, lembrava a primeira manhã que tinham acordado lado a lado. A imagem ainda nítida do estremecer do corpo dele quando adormecia, da respiração suave e ritmada, de como se aninhava perfeitamente entre os seu braços quentes num enlace que a fazia esquecer de tudo. Havia pouco tempo que se tinham reencontrado... depois de tantas estórias vividas separadamente, o destino tinha-se encarregue de naquela tarde fazer com que se encontrassem, ainda que à distância, num mesmo sítio, na mesma hora e com a mesma vontade de dizer apenas “Olá!”. Pouco mais foi preciso para ela sentir que tinha encontrado o seu reflexo no espelho e... tinha estado sempre ali, bem à sua frente, como as cartas já o tinham dito. Essa primeira noite tinha servido apenas para confirmar o que ja sentia... no quadro criado por um qualquer ente superior, eram as duas peças centrais que se encaixavam sem deixar espaço para mais, apenas lírios e raios de luz numa paisagem bucólica que servisse de fundo, de ambiente. Hoje tinha acordado de surpresa, não contava que um querubim lhe trouxesse o pequeno-almoço como se de um manjar dos deuses se tratasse. Já devia ter esperado por isso, por toda vontade que ele tinha demonstrado de fazer com que os sonhos dela se tornassem realidade, nem que isso implicasse roubar a lua de um céu estrelado, todas as rosas daquele jardim onde numa tarde quente tinham procurado refúgio, sombra, a frescura do verde contrastando com o calor rubi dos amores que se escondiam em seculares ruínas apenas para deixarem na casca da árvore mais uma estória, a sua...
E eram tantas as aventuras que já podiam contar, tantos os beijos roubados e olhares perdidos, as risadas contagiantes, os passos percorridos em largas avenidas e estreitas ruas escuras onde apenas o brilho das duas pequenas lagoas que ele carregava no rosto a impediam de desaparecer. “Toca a levantar, preguiçosa!”, sussurrou baixinho ao ouvido, causando cócegas no coração e despertando-a desse mundo mágico e transcendente que é a lembrança. É então que ela se decide a enfrentar o sol, a praia, o mar, a música do dia que os esperava. Afinal, este iria ser, concerteza, um bom dia!

16 dezembro, 2006

do baú das memórias doces I

Bom Dia!
“Hoje vai ser um bom dia” – pensou enquanto abria as janelas do seu quarto. O sol espreitava timidamente, afugentando os sonhos sombrios que tinham percorrido a sua almofada na noite anterior. Inspirou fundo absorvendo, lentamente, as gotas de orvalho que ainda cintilavam nas vidraças. Ser pássaro, ser nuvem, ser a simples folha castanha que caía da árvore que era o seu próprio ser e planar como o vento que enrolava os caracóis dos seus cabelos. Aquela manhã estava a ser difícil de enfrentar ou não fosse tão bom estar apenas a sorrir de olhos fechados, percorrendo mentalmente todos os lugares já visitados, imaginados...
Lentamente o pálido lençol escorre e um sorriso doce diz “bom dia” e o ar trás o cheiro doce de bolachas e leite. Ele tinha tomado a iniciativa em acordá-la desta vez. “Cedo demais”, pensou “mas bom na mesma”. Com aquele jeito de menina que não quer enfrentar o mundo lá fora, volta a esconder-se. “Deixa-me dormir”, diz languidamente apesar de bem saber que as horas já passaram. Cheirava a torradas quentes com doce de morango, cheirava a sonhos e ao cuidado que ele tinha tido em não a acordar antes de tudo pronto. Passos pequeninos, pezinhos de lã até afastar as espessas cortinas que protegiam o quarto do frenesim que já se fazia sentir lá fora. O calor que rapidamente invadiu sem pedir licença, lembrou-a de onde estava. Não, as folhas não caíam num tapete multicolor. Pelo contrário... transpiravam durante as horas mortas em que só as cigarras interrompiam o silêncio do Verão.
Queria continuar ali, esquecendo as horas, os minutos que a separavam da cidade que havia deixado para trás por apenas alguns dias. Mas aquele sorriso, aquele olhar azul de fundo de mar impediam-na de voltar a adormecer. “Não sabia o que querias tomar, trouxe-te um pouco de tudo”, disse com medo da resposta rabugenta que ela insistia em não esquecer. Mas não, hoje não, não podia, era o início de uma nova etapa... pelo menos por agora... o desabrochar de uma cumplicidade há muito esperada, uma aprendizagem conjunta, a capacidade de saborear, a dois, momentos deliciosamente agridoces. “Já me levanto, deixa só acordar as lembranças”, disse baixinho enquanto escondia pensamentos incertos por baixo da almofada.
Queria um beijo que ele teimava em não dar, queria, só por aquela manhã ensolarada, ser bela adormecida e ter, bem ali ao lado, o príncipe de cavalo branco imaginado em tempos idos num qualquer sótão de velharias e brincadeiras. Mas esses não pareciam os planos do ser que, tão docemente, a acordava...

11 dezembro, 2006

...

Gosto das reticências, da forma como três pontinhos deixam em suspenso o olhar, a frase, a respiração... É como se a razão se interrompesse deixando voar a imaginação, dando asas coloridas à caneta que entretanto deixou de escrever... São três sinais, três marcas que asseguram uma incerteza.
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"Calma aí que não sei o que dizer mais", gritam do papel...
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Um ponto final, dois pontos para descrever e três... três porque as ideias fugiram e as mãos ficaram reticentes em continuar. Gosto das reticências, não apenas as que escrevo mas também as que penso...
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Respira-se fundo com as reticências, a respiração em si é reticente, intermitente... Inspirar, expirar, inspirar, expirar, inspirar, expirar... bem pausadamente... ao som das reticências qe os olhos vão analisado... uma a uma...
...
As reticências não vêm sozinhas, precisam de companhia na incerteza... se duas metades se completam na unidade, três ficam suspensas no ar...
...
Podia prolongar as reticências até ao infinito... mas talvez a própria existência da reticência me leve ao plano tridimensional de um espaço inexistente...
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Tanto se poderia dizer das reticências... tanto poderiam falar as reticências quais palavras sem letras que se tornam em conceitos a cada olhar...
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São soluços de uma pena, pontos que contêm o universo... são as muitas incertezas em continuar, são a vontade de uma resposta que surja sem escrever... apenas olhar... Podem ser interrogação? Não, apenas deixam a pergunta no ar... mas podem exclamar! Ainda que sem grande convicção, sem curvas sensuais ou rectas decisivas.
...
Questionam sem palavras o incerto... sem esperarem qualquer resposta se não mais e mais reticências...

06 dezembro, 2006

A dança das borboletas

As borboletas gostam de sair à noite, às horas mágicas em que as criaturas da noite se revelam entre brilhos de purpurinas. Seguindo um chamamento inaudível reunem-se perto de uma fonte de luz, de calor onde possam bailar...

Tinha vestido algo diferente, nada vistoso ou demasiado provocante, sem cores cintilantes ou reflexos de lantejoulas... simples e diferente. A vontade de se mexer era maior que qualquer vaidade escondida. O ritmo não despertava interesse, a pista estava demasiado sóbria... tal como ela que se refugiou junto ao balcão de onde podia assistir a todos os movimentos humanos. As aproximações e afastamentos dos corpos que lá se iam rebolando sem qualquer motivo que não o da própria noite teimosamente bacante pela sua própria condição de obscuridade, de segredo... Mas esta mariposa não queria mais que contemplar os outros sem palavras, sem voz, sem ter que pensar nos momentos que antecediam ou se seguiam aos que experimentava. Tinha recolhido as asas a um canto e apenas se fazia acompanhar do néctar de frutos que lhe era essencial à própria existência naquele espaço. As luzes começavam a distorcer os movimentos, os corpos já não dançavam, antes se contorciam compulsivamente em espasmos, o chão fugia enquanto as lágrimas lhe escorriam pelo rosto... não sabiam a néctar doce de fruta ou flor. Eram feitas de memórias, de asas coloridas, de arco-íris perdidos, de raios de sol fugidíos, de chocolate quente, de mantas e almofadas e pantufas, de toalhas perfumadas.... de tudo o que a fazia voar.


A noite acaba invariavelmente com a chegada da luz maior, dos espaços abertos, dos olhos atentos, do recolher das borboletas às suas pétalas onde permanecem de asas abertas antes de mais um voo pela noite...