17 novembro, 2006

estória de um beijo


Foi numa noite quente que ela se deixou levar por uma conversa mansa e eloquente. Antes que os corpos se aproximassem, jogaram pelos caminhos sinuosos da sedução, dos sorrisos trocados pelas piadas que se contavam sem pudor. A sala animada tornava ainda mais frenéticos os movimentos, quais duas labaredas que dançam ao sabor do vento e da paixão irracional. Mas o bater das asas não chegava, latejavam os sentidos e a sede de um beijo. E todos os espectros que a rodeavam a iam manipulando até que chegasse perto do seu anjo negro caído. A tentação, o fruto proibido, o beijo roubado que ela esperava mais que simplesmente o roubar... Nem seria tanto esse contacto carnal que a deixavam num frenesim, mas sim a malícia explicitamente implícita entre presa e caçador(a). Trocavam de papéis ao ritmo da própria música, ao som das pulsações. Um toque, um gesto, uma palavra, um sussurrar e a respiração que não acalmava, nem que por um instante. Entre voltas e reviravoltas, e um mundo virado ao avesso, enlouquece-se caçador e caça que desistem de jogar... ou talvez não. O ambiente de corpos que se moviam, cada um a seu ritmo e numa própria cor tornou o espaço demasiado inebriante, demasiado pequeno, explícito... Um beijo deve ser roubado, não retirado ou descolado da boca que exige sempre mais. Ela saiu de cabeça atordoada pelo som e pela música que lhe percorria o olhar em solfejo. Cá fora falaram do dia e da noite, do sol e da lua, do rio e do mar, deixando fugir, pelas horas da madrugada, aquele fogo que a palavra fazia extinguir. O beijo? Esse foi roubado... nem por um ou por outro, mas pela própria noite que, entre claves e semi-colcheias perdidas no ar em torvelinho, se encarregou de os fazer calar...

6 comentários:

Anónimo disse...

Hoje não penso em ti, quero escapar das malhas deste Amor que me faz sofrer, quero navegar por mares mais calmos, menos tortuosos, quero perder-me à deriva de momentos que sonhei e onde tu não pertences, não quero ouvir a tua voz, oiço o mar de sonhos que me leva nas suas ondas de Paz, para um mundo muito longe daqui, fora deste Universo que se virou contra mim, as palavras que te escrevo não são as mesmas que lês, levo as cartas, onde se escondem as palavras que nunca te escrevi, não vale a pena sonhar mais, apenas quero partir...

Sê feliz minha linda borboleta...e voa...para bem longe!

A tua fada...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

A tua escrita é simplesmente fantástica!

troianaa disse...

Simplesmente fantástico...
A cada post uma nova descoberta
:)

Eldazinha disse...

Os beijos aquecem sempre os corações. Cada beijo tem uma história... que a memória conta... quando o coração arrefece demais...

Beijocas

Anónimo disse...

gosto especialmente da malícia explicitamente implicita. escrita maravilhosa, como sempre. E, à custa de algumas destas fadas, houve quem quase se ia fodendo. Mas ainda aqui estamos. E agora é diferente.